Há
uma pequena barraca exposta em frente ao cinema. Quero acreditar que
isso não seja
mero
acaso,
afinal o
que está escrito nela
–
o mágico de rua –
parece
ser uma alusão
ao filme O mágico de Oz.
Nosso
mágico de rua traja colete de feltro e chapéu de abas curtas,
acessórios que dão a ele aparência de artista improvisado, um
consultor mambembe de truques. Ainda assim, a impressão é que ele,
ao se arrumar em frente ao espelho, tenha estufado o peito e dito a
si mesmo: aí vai o melhor ilusionista de todos os tempos. Por isso é
uma pena ninguém ainda ter se interessado em conhecer
os
baralhos especiais, os cartões em chama, a caneta flutuante e tantos
outros artigos da mágica raiz.
Só
mesmo depois de um tempo é que, guiado pela mão do pai em sua nuca,
um menino se aproxima da pequena barraca. Ele então é convencido a
prestar atenção aos ensinamentos do mágico de rua, mas não há
nada que as cartas embaralhadas possam fazer para deixar a expressão
de seus pequeninos olhos menos entediada, reação compreensível de
quem certamente já se acostumou com os milagres cintilantes que
espocam na tela de um tablet. Ao final da exibição, o mágico de
rua se despede dos dois com um sorriso constrangido de frustração.
É hora de desmontar a barraca. O mágico de rua recolhe na bolsa a
mercadoria encalhada, ritual de um fracasso.
No
filme, Dorothy, o
espantalho, o
homem de lata e o
leão lançam-se
ao desafio de encontrar o Mágico de Oz, precisam
dele para que, por meio da magia, o desejo de cada um dos quatro seja
realizado. Já no caso do mágico
de rua, não
houve nem sequer uma pessoa que recorresse às
suas habilidades com coisas de fantasia e ilusão. Não
são tempos que demandem encantos.
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